Quinta-feira, 5 de Junho de 2008

RBE - 10 anos: balanço e análise prospectiva

Análise Prospectiva

 Nos princípios que estiveram na origem deste programa, a biblioteca escolar era entendida como "uma medida destinada a desenvolver os meios disponíveis de acesso à informação na escola, bem como a capacidade de alunos e professores a utilizarem com fins educativos, e que deve ser vista sempre como uma inovação pedagógica à escala de todo o estabelecimento de ensino", que "só pode ser concretizada se se traduzir em mudanças efectivas quer das estruturas existentes (espaços, organização pedagógica) quer dos comportamentos dos professores (conteúdos e métodos de ensino) e dos alunos (relação com o saber, tarefas e processos de trabalho)". A ideia correspondia já à necessidade da biblioteca responder às questões emergentes da sociedade da informação.
e num primeiro momento a escola vê a biblioteca como um recurso disponibilizador de meios e equipamentos, é esta que no seio da própria escola vem estimular a introdução de novas práticas, mais coerentes com as exigências curriculares, valorizando o papel do aluno no processo da aprendizagem e a articulação com os professores das diferentes áreas, na transversalidade do papel da biblioteca para o cumprimento dos respectivos objectivos, agora mais centrados no desenvolvimento das literacias com especial relevância para a formação de leitores e para a aquisição das competências de informação.
Dez anos depois e com todo o simbolismo que estas datas comportam é importante partilharmos uma reflexão prospectiva na medida em que os caminhos percorridos nos obrigam a um outro olhar sobre uma realidade que inevitavelmente se transformou – sociedade, sistema educativo, a própria escola, com repercussões na biblioteca – obrigando a encontrar novas respostas. Por outro lado, no universo das bibliotecas já integradas também elas comportam realidades endógenas resultantes de práticas e experiências diversas e com graus de diferenciação na gestão da informação e na constituição da colecção, na articulação com as áreas curriculares e não curriculares na construção de parcerias locais e regionais e, outros.
Ensino Público 2005/2006 

Nível de Ensino
DRE
Total
Ensino Básico
Ensino
Secundário
1º. ciclo
2º. ciclo
3º. ciclo
Total
Continente
64,0
29,4
76,0
81,9
57,3
88,7
Alentejo
77,4
47,5
95,7
97,1
74,7
86,8
Algarve
86,3
60,8
99,9
99,2
82,7
97,8
Centro
59,2
21,7
69,6
78,8
50,6
88,0
Lisboa
68,3
36,2
75,0
83,3
60,6
93,1
Norte
58,3
21,7
74,3
78,5
52,5
83,3

Nestes últimos dois anos o sistema educativo português tem sofrido alterações com impacto na organização da própria escola e inevitáveis repercussões na biblioteca, nomeadamente na reorganização da rede escolar, com os designados agrupamentos de escolas e na concretização do conceito de “escola a tempo inteiro”. Estamos em presença de uma verdadeira ruptura das formas tradicionais de acesso e utilização da biblioteca. Duma utilização sobretudo livre e muitas vezes espontânea, passamos para uma realidade que reforça e obriga a um trabalho programado em estreita articulação com os professores. Sem dúvida que o modus operandi da biblioteca tem que sofrer alterações profundas para responder adequadamente a estas mudanças.
Se no relatório síntese, que deu origem a este Programa, a biblioteca já era vista como uma “inovação pedagógica à escala de todo o estabelecimento de ensino” e equacionados os aspectos relativos, não só aos equipamentos e organização do espaço, como à formação dos recursos humanos, nomeadamente do professor coordenador, aos critérios para o desenvolvimento da colecção. Hoje, todos estes aspectos, evoluíram na forma e no conteúdo, apesar de permanecerem questões centrais ao funcionamento das bibliotecas. Caracterizada, por sua vez, por um forte hibridismo, exigindo, que para as mesmas questões, se encontrem outros modelos organizacionais. A colecção constitui, a este propósito um bom exemplo. Há que repensá-la numa abordagem não só física – nos diferentes suportes – mas também virtual. Uma parte da colecção deixa, de ter presença física na biblioteca, sendo acessível a partir de qualquer computador e/ou local.
Outro dos grandes desafios que o Programa enfrenta no presente e que se projecta a médio prazo decorre da sua participação no Plano Nacional de Leitura, numa articulação entre o Ministério de Educação e o Ministério da Cultura e o Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares. O Plano está sedeado no Gabinete RBE, cuja coordenadora é, simultaneamente, sub-comissária do Plano. O Plano Nacional de Leitura constitui uma resposta institucional à preocupação pelos níveis de iliteracia da população em geral e particularmente dos jovens, à saída do ensino obrigatório, tendo por objectivos centrais o desenvolvimento de competências nos domínios da leitura e da escrita, bem como o alargamento e aprofundamento dos hábitos de leitura. Embora se dirija a toda a população, nesta primeira fase incide essencialmente na escola, particularmente no pré-escolar, 1º e 2º, cabendo às bibliotecas escolares um papel decisivo no apoio, planificação e participação nas acções previstas para os diferentes níveis de ensino. Também, desde o início, serão envolvidos os mediadores de leitura, pais, família, professores, bibliotecários e outros. O logo do Plano – LER+ - consubstancia a sua ideia central – ler na escola, na família, na biblioteca e em todo o lado. O Plano contempla, ainda, um conjunto de estudos, que se irão processando paralelamente. Numa ponte entre o passado e o futuro, a avaliação das bibliotecas e do próprio Programa é um imperativo que, permitindo conhecer melhor esse passado e sobre ele reflectir, possibilitará redesenhar o futuro, recolocando outras questões, redefinindo metas, objectivos e estratégias futuras. A auto-avaliação das bibliotecas escolares, realizada através da apresentação de um relatório anual, será este ano objecto da aplicação de um modelo, com recurso a um quadro de referência, baseado num conjunto de indicadores relacionados com o desenvolvimento e funcionamento da biblioteca escolar. Será, assim, possível uma análise de resultados com significado a nível organizacional e funcional, esperando-se que o conjunto de acções daí decorrentes originem processos de mudança, traduzíveis na melhoria contínua dos serviços com resultados positivos para a escola, a formação e as aprendizagens dos alunos. Consideramos, pois, que se torna imprescindível ao desenvolvimento e optimização do funcionamento da biblioteca, permitindo os seus resultados a recolha de informação pertinente, para suporte à decisão de políticas de apoio, de desenvolvimento e de consolidação da rede.
Decorridos estes dez anos, tendo em conta o número de bibliotecas integradas e o investimento realizado, julgamos prioritário proceder a uma avaliação do Programa por uma entidade externa, que permita obter informação, tanto em termos de processo – perceber a eficácia dos mecanismos de operacionalização e de implementação do Programa – e, ainda, em termos de produto – terão sido atingidos os objectivos estabelecidos?
Por, outro lado, resultando o programa de um trabalho colaborativo entre diversos intervenientes, a nível central, intermédio e local, importa que a avaliação também incida na recolha e tratamento da informação relacionada com todas as instituições que, nos diferentes níveis, estão envolvidos na sua execução: Escolas, GRBE, C. M. / BM / SABES, DREs, Entidades formadoras.
Na filosofia de desenvolvimento em rede o Programa continuará a ter como prioridade a consolidação da articulação entre as escolas, as câmaras municipais/bibliotecas municipais, os centros de formação, as DREs e o Gabinete. É objectivo aprofundar esta “teia”, com recurso também, à verdadeira plataforma de entendimento que julgamos constituir a nossa página, explorando os seus recursos de formação, informação e interactividade.
Finalmente, diríamos que os desafios maiores que o futuro nos coloca, passam pela institucionalização da BE, situando-a no contexto do sistema educativo, com uma definição por parte dos decisores políticos dos respectivos objectivos e missão, pela criação de um quadro específico de afectação de recursos humanos, particularmente do professor bibliotecário, que, aliás o relatório síntese já consubstancia e, sem dúvida, pela capacidade da Biblioteca escolar se manter, no novo modelo organizacional das escolas, como estrutura inovadora, funcionando dentro e para fora da escola, apreendendo, gerindo e gerando as literacias necessárias à vida.
Avaliar, expandir, aprofundar e consolidar a “rede” constituirão, deste modo, vectores estruturantes para os próximos cinco anos, numa convergência motivacional e institucional de resposta adequada da biblioteca às dinâmicas do mundo envolvente.
In RBE
publicado por bibliotecaddduarte às 22:55
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