Análise Prospectiva
Nos princípios que estiveram na origem deste programa, a biblioteca escolar era entendida como "uma medida destinada a desenvolver os meios disponíveis de acesso à informação na escola, bem como a capacidade de alunos e professores a utilizarem com fins educativos, e que deve ser vista sempre como uma inovação pedagógica à escala de todo o estabelecimento de ensino", que "só pode ser concretizada se se traduzir em mudanças efectivas quer das estruturas existentes (espaços, organização pedagógica) quer dos comportamentos dos professores (conteúdos e métodos de ensino) e dos alunos (relação com o saber, tarefas e processos de trabalho)". A ideia correspondia já à necessidade da biblioteca responder às questões emergentes da sociedade da informação.
e num primeiro momento a escola vê a biblioteca como um recurso disponibilizador de meios e equipamentos, é esta que no seio da própria escola vem estimular a introdução de novas práticas, mais coerentes com as exigências curriculares, valorizando o papel do aluno no processo da aprendizagem e a articulação com os professores das diferentes áreas, na transversalidade do papel da biblioteca para o cumprimento dos respectivos objectivos, agora mais centrados no desenvolvimento das literacias com especial relevância para a formação de leitores e para a aquisição das competências de informação.
Dez anos depois e com todo o simbolismo que estas datas comportam é importante partilharmos uma reflexão prospectiva na medida em que os caminhos percorridos nos obrigam a um outro olhar sobre uma realidade que inevitavelmente se transformou – sociedade, sistema educativo, a própria escola, com repercussões na biblioteca – obrigando a encontrar novas respostas. Por outro lado, no universo das bibliotecas já integradas também elas comportam realidades endógenas resultantes de práticas e experiências diversas e com graus de diferenciação na gestão da informação e na constituição da colecção, na articulação com as áreas curriculares e não curriculares na construção de parcerias locais e regionais e, outros.
Ensino Público 2005/2006
Nível de Ensino
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DRE
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Total
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Ensino Básico
|
Ensino
Secundário
|
1º. ciclo
|
2º. ciclo
|
3º. ciclo
|
Total
|
Continente
|
64,0
|
29,4
|
76,0
|
81,9
|
57,3
|
88,7
|
Alentejo
|
77,4
|
47,5
|
95,7
|
97,1
|
74,7
|
86,8
|
Algarve
|
86,3
|
60,8
|
99,9
|
99,2
|
82,7
|
97,8
|
Centro
|
59,2
|
21,7
|
69,6
|
78,8
|
50,6
|
88,0
|
Lisboa
|
68,3
|
36,2
|
75,0
|
83,3
|
60,6
|
93,1
|
Norte
|
58,3
|
21,7
|
74,3
|
78,5
|
52,5
|
83,3
|
Nestes últimos dois anos o sistema educativo português tem sofrido alterações com impacto na organização da própria escola e inevitáveis repercussões na biblioteca, nomeadamente na reorganização da rede escolar, com os designados agrupamentos de escolas e na concretização do conceito de “escola a tempo inteiro”. Estamos em presença de uma verdadeira ruptura das formas tradicionais de acesso e utilização da biblioteca. Duma utilização sobretudo livre e muitas vezes espontânea, passamos para uma realidade que reforça e obriga a um trabalho programado em estreita articulação com os professores. Sem dúvida que o modus operandi da biblioteca tem que sofrer alterações profundas para responder adequadamente a estas mudanças.
Se no relatório síntese, que deu origem a este Programa, a biblioteca já era vista como uma “inovação pedagógica à escala de todo o estabelecimento de ensino” e equacionados os aspectos relativos, não só aos equipamentos e organização do espaço, como à formação dos recursos humanos, nomeadamente do professor coordenador, aos critérios para o desenvolvimento da colecção. Hoje, todos estes aspectos, evoluíram na forma e no conteúdo, apesar de permanecerem questões centrais ao funcionamento das bibliotecas. Caracterizada, por sua vez, por um forte hibridismo, exigindo, que para as mesmas questões, se encontrem outros modelos organizacionais. A colecção constitui, a este propósito um bom exemplo. Há que repensá-la numa abordagem não só física – nos diferentes suportes – mas também virtual. Uma parte da colecção deixa, de ter presença física na biblioteca, sendo acessível a partir de qualquer computador e/ou local.
Outro dos grandes desafios que o Programa enfrenta no presente e que se projecta a médio prazo decorre da sua participação no Plano Nacional de Leitura, numa articulação entre o Ministério de Educação e o Ministério da Cultura e o Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares. O Plano está sedeado no Gabinete RBE, cuja coordenadora é, simultaneamente, sub-comissária do Plano. O Plano Nacional de Leitura constitui uma resposta institucional à preocupação pelos níveis de iliteracia da população em geral e particularmente dos jovens, à saída do ensino obrigatório, tendo por objectivos centrais o desenvolvimento de competências nos domínios da leitura e da escrita, bem como o alargamento e aprofundamento dos hábitos de leitura. Embora se dirija a toda a população, nesta primeira fase incide essencialmente na escola, particularmente no pré-escolar, 1º e 2º, cabendo às bibliotecas escolares um papel decisivo no apoio, planificação e participação nas acções previstas para os diferentes níveis de ensino. Também, desde o início, serão envolvidos os mediadores de leitura, pais, família, professores, bibliotecários e outros. O logo do Plano – LER+ - consubstancia a sua ideia central – ler na escola, na família, na biblioteca e em todo o lado. O Plano contempla, ainda, um conjunto de estudos, que se irão processando paralelamente. Numa ponte entre o passado e o futuro, a avaliação das bibliotecas e do próprio Programa é um imperativo que, permitindo conhecer melhor esse passado e sobre ele reflectir, possibilitará redesenhar o futuro, recolocando outras questões, redefinindo metas, objectivos e estratégias futuras. A auto-avaliação das bibliotecas escolares, realizada através da apresentação de um relatório anual, será este ano objecto da aplicação de um modelo, com recurso a um quadro de referência, baseado num conjunto de indicadores relacionados com o desenvolvimento e funcionamento da biblioteca escolar. Será, assim, possível uma análise de resultados com significado a nível organizacional e funcional, esperando-se que o conjunto de acções daí decorrentes originem processos de mudança, traduzíveis na melhoria contínua dos serviços com resultados positivos para a escola, a formação e as aprendizagens dos alunos. Consideramos, pois, que se torna imprescindível ao desenvolvimento e optimização do funcionamento da biblioteca, permitindo os seus resultados a recolha de informação pertinente, para suporte à decisão de políticas de apoio, de desenvolvimento e de consolidação da rede.
Decorridos estes dez anos, tendo em conta o número de bibliotecas integradas e o investimento realizado, julgamos prioritário proceder a uma avaliação do Programa por uma entidade externa, que permita obter informação, tanto em termos de processo – perceber a eficácia dos mecanismos de operacionalização e de implementação do Programa – e, ainda, em termos de produto – terão sido atingidos os objectivos estabelecidos?
Por, outro lado, resultando o programa de um trabalho colaborativo entre diversos intervenientes, a nível central, intermédio e local, importa que a avaliação também incida na recolha e tratamento da informação relacionada com todas as instituições que, nos diferentes níveis, estão envolvidos na sua execução: Escolas, GRBE, C. M. / BM / SABES, DREs, Entidades formadoras.
Na filosofia de desenvolvimento em rede o Programa continuará a ter como prioridade a consolidação da articulação entre as escolas, as câmaras municipais/bibliotecas municipais, os centros de formação, as DREs e o Gabinete. É objectivo aprofundar esta “teia”, com recurso também, à verdadeira plataforma de entendimento que julgamos constituir a nossa página, explorando os seus recursos de formação, informação e interactividade.
Finalmente, diríamos que os desafios maiores que o futuro nos coloca, passam pela institucionalização da BE, situando-a no contexto do sistema educativo, com uma definição por parte dos decisores políticos dos respectivos objectivos e missão, pela criação de um quadro específico de afectação de recursos humanos, particularmente do professor bibliotecário, que, aliás o relatório síntese já consubstancia e, sem dúvida, pela capacidade da Biblioteca escolar se manter, no novo modelo organizacional das escolas, como estrutura inovadora, funcionando dentro e para fora da escola, apreendendo, gerindo e gerando as literacias necessárias à vida.
Avaliar, expandir, aprofundar e consolidar a “rede” constituirão, deste modo, vectores estruturantes para os próximos cinco anos, numa convergência motivacional e institucional de resposta adequada da biblioteca às dinâmicas do mundo envolvente.
In RBE